Gestão humanizada na administração de condomínios: Um olhar que vai além das áreas comuns. Empatia por cada história.

O Condomínio é uma propriedade simultânea e concorrente, o que significa que todos são donos ao mesmo tempo, e podem usar a coisa toda (área comum), dentro dos limites da convivência harmônica. Esta harmonia nem sempre é fácil, e por isso que os romanos chamavam o condomínio de mater discordiarum (mãe das discórdias). O condomínio é uma exceção à regra pela qual toda propriedade é exclusiva, pois apesar de possibilitar que cada condômino utilize as áreas comuns, este uso deve estar de acordo com a vontade dos outros condôminos, de acordo com a Convenção e o Regimento Interno. Nesses espaços comuns, as relações humanas destas diferentes pessoas, que convivem e partilham suas vidas, acabam por se entrelaçar. Sendo uma comunidade, regras precisam existir, para que haja harmonia quanto ao uso desses espaços. Entretanto, o que a Gestão Humanizada propõe, dentre outros, é conhecer a história [sem invasão de privacidade] de cada um desses lares. Cada um tem sua história, suas necessidades, seus sonhos – que podem até ser comuns. Conhecendo sua a comunidade, suas necessidades, os Gestores poderão implementar projetos e ações personalizados, demonstrando a atenção e o comprometimento em satisfazer as necessidades coletivas e individuais dos condôminos, com o objetivo maior de alcançar o bem-estar.

A necessidade de se edificar um ambiente condominial em que todos se sintam parte imprescindível do todo

Por trás de cada porta, há um lar, há uma história, um costume, uma resistência, uma cultura. Empatia e resiliência são fundamentais na implementação de todo este processo. O Gestor Condominial terá o desafio de conhecer cada um, se quiser trazer para seu condomínio a Gestão Humanizada que, quando implementada, traz resultados visíveis e altamente significativos, em que a convivência se torna mais pacífica, discordâncias são mitigadas com empatia, há o fortalecimento das relações entre os vizinhos que passam a se ajudar mutuamente, e tudo isso vai se espalhando pelo Condomínio gerando aquela sensação de conforto, segurança e bem-estar. Muito mais do que uma tendência, a Gestão Humanizada na administração de condomínios é uma necessidade. Lidamos com pessoas e todas as interações são importantes. Portanto, empatia, confiança e respeito mútuo são inegociáveis.

É imprescindível que o Gestor conheça sua comunidade, se é formada por idosos, autistas, portadores de TDAH, portadores de deficiência, portadores de mobilidade reduzida, dentre outros. Pessoas que possuem direitos assegurados por lei. Porém, para além da lei, a humanidade. Estas pessoas devem ser incluídas na comunidade condominial. É preciso que o vizinho saiba que um possível barulho esteja sendo produzido por um Autista. O Autista não quer descumprir a norma. Ele não tem como evitar. Na Gestão Humanizada, o vizinho seria resiliente. Não haveria conflito.

Implementação da Gestão Humanizada nos condomínios: Desafios, Persistência e seu Poder Transformador

Reunir divergentes pontos de vista e diferentes realidades pode reclamar, ao Gestor, esforços extras na procura por aquilo que beneficie a todos. Porém, este não é o único desafio significativo. O Mercado exige, cada vez mais, a necessidade de capacitação e educação continuada. E nem sempre síndicos e equipes possuem a formação adequada para lidar com os aspectos humanos da gestão condominial. Portanto, é fundamental o investimento em treinamentos e programas educacionais de Gestão Humanizada.  Outro aspecto importante é a implementação de ações destinadas aos espaços de convivência que possam agregar o máximo de moradores em atividades coletivas e que promovam a integração entre moradores.

Para isso, cada vez mais, a comunicação se torna crucial. Ela deve ser clara, empática, franca e acolhedora. É imprescindível que o Gestor construa canais de diálogos abertos com sua comunidade e com feedback, pois, por meio de uma comunicação eficaz, pontes de entendimento são edificadas, problemas são solucionados.

Esforço, comprometimento, empatia, capacitação, tempo, recursos financeiros e desafio. A Gestão Humanizada vai exigir tudo isso [e muito mais] do Gestor. Ela não é uma moda. Ao contrário, é uma necessidade. Em tempos de intolerância, o diálogo e o respeito são cada vez mais exigíveis e, portanto, inegociáveis. Colocar o ser humano no centro das atenções é o caminho para uma convivência pacífica, onde cada diferença é respeitada e inclusiva. E é assim que deve agir o Gestor Condominial, se quiser que sua comunidade se sinta verdadeiramente em casa, deve criar e promover ambientes verdadeiramente coletivos inclusivos, respeitando-se as diferenças e, certamente, fomentará um ambiente de credibilidade e cooperação entre todos.

*Claudia Maria Scalzer

Advogada OAB/ES 7.385

Membro da Comissão de Direito Condominial da OAB/ES

Professora Universitária

Proprietária do Escritório de Advocacia SCALZER Advocacia Condominial

Advocacia Especializada em Condomínio há mais 15 anos.